
SAAB MEETING PORTUGAL 2018
No passado dia 20 de outubro de 2018, realizou-se mais um encontro nacional dos apaixonados pela mítica marca SAAB. A organização foi da responsabilidade do S.C.P.C. Associação Automóvel que escolheu como cenário a majestosa região do Douro.
A direção deste clube tinha por objetivo promover um encontro dos “Sabistas” e ao mesmo tempo dar a conhecer uma das mais belas regiões do mundo, a sua história, os costumes e tradições, a gastronomia e os excelentes vinhos que aqui se produzem.
O dia teve início com a concentração dos “Sabistas” no Cais da Junqueira, na cidade do Peso da Régua, onde se fez um ligeiro briefing e uma abordagem histórica às origens daquela e à região do Douro.
A cidade da Régua
A origem da cidade remonta à época romana. No entanto, alguns escritores defendem que as origens da cidade datam do reinado de D. Sancho I.
Em 26 de Dezembro de 1513, D. Manuel atribuiu-lhe um foral, mas alguns historiadores dizem que o 1º foral terá sido dado por D. Afonso Henriques.
O nome Peso deriva do lugar onde era efetuado o peso dos géneros e se cobravam os direitos impostos a várias mercadorias.
Peso da Régua foi elevada a concelho em 1836. A história desta cidade foi influenciada pela criação da Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro, pelo Marquês de Pombal, em 1756 que deu origem à primeira região demarcada e regulamentada do mundo.
A partir daí, e graças à sua localização geográfica, esta localidade adquiriu uma importância estratégica no transporte e comercialização dos vinhos produzidos na região do Douro. Era daqui que partiam os barcos Rabelos carregados com as pipas de vinho do Porto, em direção a Gaia. A partir de 1887, com a construção da linha de caminho-de-ferro, os barcos perdem a sua importância e o transporte é feito de comboio.
A 14 de agosto de 1985 foi elevada à categoria de cidade e em 1988 foi reconhecida como Cidade Internacional da Vinha e do Vinho.
A Região Demarcada do Douro
Esta foi a primeira região demarcada e reconhecida no mundo, criada no séc. XVIII, no reinado de D. José I, em 1756, no tempo do Marquês de Pombal e confirmada em 1921.
A região demarcada vai de Barqueiros (Mesão Frio) até Barca de Alva, ao longo do vale do rio Douro e seus afluentes. Esta região foi classificada pela UNESCO, primeiro como paisagem cultural, em 1992 e em 2001 recebeu a designação de Património Mundial da Humanidade. Designada por Alto Douro Vinhateiro, é uma paisagem das mais belas paisagens culturais do mundo que harmoniza a natureza com ação do homem. Aqui se produz o famoso Vinho do Porto, que é assim designado porque a exportação do vinho era feita a partir da Alfândega do Porto, por influência de comerciantes ingleses.
Este vinho, na região do Douro é designado por vinho generoso ou vinho fino e obtém-se a partir da junção de aguardente ao vinho que interrompe fermentação e mantém o paladar da uva.
Como região demarcada mais antiga do mundo combina a natureza monumental do vale encantado, feito de encostas íngremes e solos pobres e acidentados, com a ação ancestral, contínua e tenaz do homem.
Alves Redol, no seu livro Horizonte Cerrado, do Ciclo Port – Wine – I, na voz do personagem Fontela descreve-o de forma sublime: “ Em qualquer banda uma cepa se agarra; mas do nosso, criado na fragaria…
– É verdadeiro sangue de Cristo – interveio Fontela…
– Mais do que isso!…vinho do Doiro é sangue dos homens. Sangue dos homens, pois!”
Miguel Torga, natural desta região, também o descreve desta forma: “O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta.” (in Diário XII).
Após esta pequena contextualização histórica e literária, o passeio prosseguiu em direção ao concelho de Armamar. Por entre curvas e mais curvas e paisagens de cortar a respiração, seguimos pela EN 313 até à Vila de Fontelo, local onde se situa o lendário miradouro e Santuário de São Domingos. Aqui observámos a paisagem, como que de uma visão de pássaro se tratasse, vimos a abrangente beleza natural moldada pelo homem e, também aí se fez uma abordagem histórica do local.
Capela de S. Domingos – Fontelo de Armamar
Esta capela situa-se a cerca de 750 metros de altitude e encontram-se referências a ela desde o séc. XII. Na idade média era um dos santuários onde se realizavam romarias com alguma frequência.
É um edifício românico, com arco em ogiva e contém um escudo das quinas, sobre o qual assenta a coroa real que terá sido aí mandado colocar por D. João II.
Existe uma lenda relacionada com a fraga da fertilidade que diz que D. Afonso V, durante uma romaria a este santuário terá pernoitou ao relento com a sua esposa D. Isabel, onde terá sido fecundado o filho D. João II. Este depois de casar com D. Leonor, que também não conseguia conceber um herdeiro, terá sido aconselhado pelo pai ir à capela para fazer o pedido, o que terá dado resultado. A partir daí a fraga ficou conhecida pela fraga da fertilidade.
Após a paragem neste local maravilhoso, onde mais uma vez se observou a paisagem circundante que pertence aos concelhos que ficam nas duas margens do Rio Douro, dirigimo-nos à vila de Armamar. Ainda com o sabor da história e com algum friozinho no estômago, seguimos mais uma vez pela EN 313.
O concelho de Armamar
Chegados à vila de Armamar que é designada pela “Terra de Emoções” , constatámos que decorria a Feira da maçã, que ali se realiza anualmente para divulgar este fruto.
O concelho de Armamar é um dos maiores produtores de maçã. Esta vila é designada por “capital da maçã de montanha”. A produção atinge cerca de 75 mil toneladas por ano. A norte deste concelho predomina a cultura da vinha, onde se produz vinho de mesa e vinho generoso, vulgo vinho do Porto. A sul, predomina a produção de fruta com destaque para a maçã de montanha.
Contornando a igreja de São Miguel, um monumento nacional em estilo românico, seguimos em direção à deslumbrante Quinta Maria Izabel, sempre rodeados pelas belas paisagens durienses. Aqui foi servido um pequeno-almoço a preceito, composto por iguarias confecionadas por uma das pastelarias de Armamar, onde podemos disfrutar dos sabores regionais tais como: enchidos, os famosos lenços de maçã, as broas de maçã e a famosa bola de Armamar e ainda os afamados vinhos da região. Claro que não podia faltar o tradicional Porto de Honra com um vinho fino de 10 anos.
Com a manhã já a meio, continuámos a nossa viagem em paralelo ao Rio Douro, pela estrada EN 222, numa extensão de 15 km, naquela que é considerada a mais bela estrada do mundo.
Chegados à bonita vila do Pinhão, esperava por nós uma simpática embarcação que nos levaria numa curta mas esplendorosa viagem fluvial pelo rio acima. Encantados com tal beleza, podemos ainda observar encostas com vinhedos, muitos deles propriedade de conceituadas marcas internacionais de Vinho do Porto.
De regresso à vila do Pinhão, seguimos pela sinuosa mas não menos bonita estrada EN 322, em direção a Favaios, que nos levaria ao merecido repasto na Enoteca Quinta da Avessada. Aí, fomos recebidos a preceito, com música tradicional portuguesa ao vivo e um repasto digno dos Deuses, onde cada iguaria que era servida era acompanhada por uma breve alusão histórica.
No final da tarde, já com o sol despedir-se, fomos ainda agraciados com uma passagem pelo museu onde nos foi contado o passado e o presente da Quinta da Avessada, bem como ficámos a conhecer os métodos de vinificação do verdadeiro Moscatel de Favaios.
E assim se fez mais um Meeting SAAB 2018, com um dia recheado de sensações que, certamente ficarão na memória de quem participou neste passeio.
Artigo elaborado por Fátima Carvalheira e Carlos Cruchinho
Fontes: https://www.cm-pesoregua.pt/index.php/turismo/historia